quarta-feira, 4 de junho de 2014

FOME DE SONHOS

 por Inajá Martins de Almeida

Assistia eu a um treinamento do psiquiatra, escritor e palestrante Roberto Shinyashiki, quando me deparei com uma fala que me tocou fundo:

- “Você precisa ter fome”.

Estanquei. Passei a inquirir o sentido da fome. Percebi que só caminhamos quando as necessidades nos forçam a sair da área de conforto.

“E a fome era gravíssima na terra.” Gn 43:1

Olhei para dentro de mim. Acompanhei minha trajetória através da linha do tempo. Entre linhas e rabiscos, chuleei a jovem na capital paulista, recém formada, desempregada, mas dona de um sonho maior do que aquela imensidão. Emaranhado de pessoas que iam e vinham no burburinho das alamedas ruas e avenidas – todas abertas a conduzirem os sonhos da jovem. Janelas a vislumbrar horizontes infindáveis dos que sonham e buscam se realizarem através deles.

Era o sonho que movia o olhar inquieto. A mente a trabalhar em compassos alterados, enquanto gravitava em busca da realidade do sonho, o sonho realizável. Da realidade, o sonho real. A fome embalava o sonho.

Sonho... Dias após ao assombro, a fome me levaria a desvendar a existência de duas pessoas apenas: as que sonham e as que estão mortas. Logo formado estava o triângulo: - a fome, o sonho e a sonhadora.

A jovem sonhadora cedera lugar à senhora sexagenária cheia de sonhos. Sentia-me viva, ainda mais diante das lembranças. Os sonhos que se transformaram. Sonhos realizados. Sonhos abafados. Sonhos sonhados. Mas... Sonhos.         

Era eu a jovem que trazia na bagagem, muitos sonhos. Visões de um futuro alinhavando sonhos. Sou eu a sexagenária, que não perdeu os sonhos, ainda que muitos sonhos se tenham perdido pelos caminhos. Sonhos de sonhadores...

Eis que devemos nos lembrar dos nossos sonhos, “porquanto se achou neste Daniel um espírito excelente e conhecimento e entendimento, interpretando sonhos e explicando enigmas e resolvendo dúvidas...” (Dn 5:12)

Porque afinal percebi, que, “em toda a maneira e em todas as coisas estou instruída tanto a ter fartura como a ter fome... “ (Fl 4:12)

Fome de sonhos!

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