quinta-feira, 17 de junho de 2010

UMA PALAVRA

Quantas vezes uma palavra nos dá a sensação de abandono, de desamparo, de desespero perante um mundo em que os valores parecem estar invertidos, como comumente estamos habituados a ouvir e falar.

Quantas vezes nos prostramos, adoecemos, pensamos em morrer, mas uma palavra, sussurrada no âmago do nosso ser, faz com que criemos ânimo, e nos levantemos, com força e coragem.

Acompanhando as manifestações de fé do profeta Elias, podemos perceber que a presença de Deus se fazia marcante através de várias situações que nos apresentam as Escrituras Sagradas:

Ser alimentado por corvos por um bom tempo.
Multiplicar a farinha das vasilhas e o azeite das botijas da viúva de Sarepta.
Ressuscitar o jovem filho da mesma viúva, clamando a Deus para que o sopro de vida viesse habitar novamente aquele corpo inerte.
Solicitar a Deus para que a chuva não molhasse o solo por três anos consecutivos, ocasionando fome intensa por toda Samaria.
Restaurar o altar do Senhor que havia sido derrubado e sobre ele: tomar doze pedras – como se as doze tribos fora – colocar lenha, partir o novilho em dois pedaços, três vezes fazer derramar água por todo holocausto e pelo rego que ao redor se formara, clamar a Deus para que o fogo descesse e de pronto ser atendido ao ver tudo ser consumido rapidamente.
Matar a espada todos os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal.
Colocar o rosto em terra e clamar para que a chuva voltasse a cair.

Entretanto, após tantos feitos, uma palavra, uma mensagem lhe é encaminhada: “assim se façam os deuses, e outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer a tua vida como a de um deles” (1 Re 19:2); era Jezabel – mulher do rei Acabe – quem intimidava o destemível profeta, que agora chegava à presença de Deus pedindo para si a morte.

Quantas vezes uma palavra pode nos levar a vida abundante, plena, mas também pode, ao contrário, nos levar ao medo, à fuga, à depressão, à morte.

Penso que Elias não chegou a descrer do poder de Deus para com sua vida; julgo até ser impossível pela proximidade e intimidade, que detinha com Aquele, que lhe atendia por inteiro. Julgo até que, por ser um homem de oração, bem o sabia que sua força não lhe permitiria ousar tanta proeza; também tinha consciência de que somente Aquele que lhe outorgara vida e poder, poderia requisitá-la de volta a Si, portanto, que perigo poderia lhe causar um chamado, uma palavra, uma mensagem. Que mal, poderia fazer a sua vida, alguém que servia deuses pagãos?

O que me permito imaginar, até me sentir no direito de uma opinião própria, decorrido tanto tempo, é que um cansaço, um vazio, uma solidão, um abandono de palavras amigas, palavras de consolo e conforto, oprimiu aquele, o qual abatido, até pelo cansaço físico, esboça um pedido para que a vida lhe seja ceifada.

Do contrário, como ser possível? Num instante armar-se de toda coragem perante um rei, que fazia tudo o que era mau aos olhos de Deus, “mais do que todos os que o antecederam”, conforme nos relata 1Re 16:30, agora ao clamor de uma palavra querer evadir-se da vida?

Porém, também ao mesmo tempo, julgo ser natural e permissível para Deus, pois embora sendo profeta, era homem, era humano, era de carne e osso como todos nós. Elias tinha pleno conhecimento de que a mão do Senhor estava sobre ele, ao ponto de cingir seus próprios ombros, e se apresentar a Acabe, “correndo”, segundo descrito em 1Re 18:46, mas, creio que naquele momento era salutar que ele deixasse o palco e ocupasse os bastidores; retornasse a sua posição de humano comum, com seus temores, necessidades, fraquezas, anseios.

Talvez custoso para nosso entendimento limitado tal atitude, porém, Deus conhece a intenção de todos os corações e, se não conseguimos perdoar, até mesmo encarar nossas falhas, nossas imperfeições, Ele nos trata, chama-nos pelo nome, alimenta-nos – no físico e no espírito – acredita em nós, atribui-nos trabalho na Sua seara. Tira-nos da caverna e nos faz caminhar, ainda que uma palavra queira nos deter, tal qual Elias.     


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Livro de 1 Reis capítulos 17, 18 e 20 - Bíblia Sagrada - edição Alfalit Brasil 2002


na interpretação de Inajá Martins de Almeida

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