sábado, 2 de março de 2024

PASTORES DE FANTASIA e OVELHAS DE FANTASIA

 

É claro demais: não havendo ovelhas, não há necessidade alguma nem de igrejas nem de pastores.

Tão claro quanto: não havendo alunos, não há necessidade nem de escolas, nem de professores; não havendo doentes, não há necessidade nem de hospitais, nem de médicos. Isto quer dizer que, havendo ovelhas, há necessidade de pastores.

Assim como há decepção mútua entre estudante e professor, há também decepção mútua entre ovelha e pastor. Os dois tem de saber que a decepção é de ambos os lados. Assim é mais fácil tratar do problema do relacionamento entre um e outro. É como se fosse um desconforto conjugal, que exige humildade e diálogo de ambos os cônjuges para recuperar a harmonia perdida.

O problema é antigo e preocupante. Há ovelhas que se queixam amargamente de seus pastores e há pastores que se queixam amargamente de suas ovelhas. Enquanto Deus se queixa de ambos ou, conforme o caso, só de um deles. 

No livro do profeta Zacarias há uma palavra muito dura contra os pastores: “Ai do pastor imprestável, que abandona o rebanho” (Zc. 11:17).

Em outras versões, o “pastor imprestável” tem sido pitorescamente chamado de “pastor de nada”, “pastor de coisa nenhuma” e “pastor de fantasia”. Esse pastor é aquele que não se preocupa com as ovelhas. Não procura a que está desgarrada, nem cura as machucadas, nem alimenta as sadias, mas come a carne das ovelhas mais gordas (Zc. 11:16).

O quadro é patético. Serve para contrastar com o comportamento do Bom Pastor por excelência.

Se há “pastores de fantasia”, os tais pastores mercenários a quem Jesus se refere (Jo.10:12), pastores sem alma, sem dedicação, sem testemunho, sem autoridade, sem mensagem, há também ovelhas obstinadas, que tapam os ouvidos para não ouvir, como o próprio Zacarias admite (Zc. 7:11).

Há muitos pastores não de fantasia que já não sabem o que fazer por essas ovelhas imprestáveis, essas ovelhas de fantasia. Um deles, o profeta Jeremias, queixou-se de que pregou em vão durante vinte e três anos, dia após dia (Jer. 23:3). 

Outro, o apóstolo Paulo, queixou-se de que suas ovelhas de Corinto, nunca saíram da carnalidade para a espiritualidade, nem do leite para o alimento sólido, nem dos “ensinos elementares” para as “coisas difíceis de entender” (1 Cor. 3:1-3; Hb. 5:11-14).


Fonte: Revista Ultimato, dezembro, 2004 / < Ver outros Editoriais

https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/291/pastores-de-fantasia-e-ovelhas-de-fantasia

consulta em 02/03/2024 


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

AMAR A DEUS

 

AMAR A DEUS   - 07/08/2013

 

PEDRO TU ME AMAS?

Ultimamente tenho meditado muito sobre as palavras escritas no primeiro mandamento de Deus, através de Moisés e depois confirmadas por Jesus, quando então nos diz que se amássemos a Deus acima de todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, os demais mandamentos estariam ali contidos.

Resolvi então degustar cada palavra, ponderar, analisar, questionar, dar um toque pessoal. Assim, vejamos.

Em primeiro lugar Ele nos pede que O amemos acima de todas as coisas, logo em seguida que amemos ao nosso próximo; até aqui tudo natural – é nosso dever, como seres humanos, que amemos nossos irmãos – porém, o que me tocou mais fundo ainda foi o que complementa a frase – como a ti mesmo.

Esquematizei, para que ficasse registrado em meus pontos:

 

1.       Amar a Deus acima de todas as coisas

2.       Amar ao próximo

3.       Amar a nós mesmos

 

Assim, pensei que poderíamos fazer uma analogia e inverter a colocação das palavras quando, até quem sabe, atentaríamos ao significado de forma mais concisa e clara. Desta feita, se a ordem dos fatores não altera o produto, que tal: amar a Deus acima de todas as coisas e a nós, como condição para amarmos nosso próximo? 

E o questionamento continuou forte em mim: se não nos amarmos, não nos respeitarmos, não nos darmos o devido valor, como poderemos então atribuir valor, amor e respeito ao nosso próximo? Julgo ser incoerente. Quanto mais amar a Deus?

Acredito até que se nos amássemos, déssemos o valor à nossa concepção, ao nosso nascimento, à vida que recebemos de forma espetacular na grande corrida pela concepção, respeitássemos nosso corpo não o contaminando com drogas, sexo abusivo, palavras torpes advindas de nossa língua, entenderíamos o amor que Deus sente por sua criação e facilmente poderíamos dedicar-lhe o amor que Ele nos pede. 

Aí a confusão ficou geral: será que amamos a Deus, acima de qualquer coisa? Se não conseguimos amar e respeitar aquele a quem vemos, como poderemos ter sentimento a alguém que não vemos? E porque Deus registraria numa tábua essas questões? Por que nos pediria, mais ainda, deixaria por escrito, em lei, em fundamento, em mandamento, que O amássemos?

O povo por Ele eleito, já pudera presenciar sinais e prodígios quando:

Liberto do cativeiro do Egito a pés enxutos passam através das imensas colunas formadas à direita e a esquerda do mar, que se abria ao toque do seu libertador Moisés, sem que mal algum lhes acometesse, em contrapartida aos carros dos egípcios que tragados eram pelas águas violentas do mar que se fechava à sua passagem.

Codornizes, no deserto, serviam-lhe de alimento.

Densa coluna de fogo exauria calor durante a noite e nuvens provocavam sombra abrigando a multidão do intenso calor do deserto, durante o dia.

Suas roupas se mantinham intactas, ainda que decorridos quarenta anos no deserto.

Mesmo assim havia murmúrio e desejo de volta ao cativeiro, regime que os mantivera por quatrocentos anos cativos de reis pagãos, que se autodenominavam deuses – os faraós.

Naquele momento, fazia-se necessário que leis fossem formuladas. Mandamentos editados.  Os anos de escravidão marcaram um povo que para liberdade fora criado.      

De repente, nesses questionamentos, encontro Anselm Grun a dizer que:

“Sábio é aquele que gosta de si próprio, aquele que está reconciliado consigo mesmo; alguém que é capaz de sentir o próprio sabor, de degustar a si próprio, alguém que se reconciliou consigo mesmo e com a história de sua própria vida. Por isso em tudo quanto faz ele transmite um “sabor agradável”.

Sim, se ele pode sentir o próprio sabor agradável e suave de se amar, de amar o próximo, está então preparado para ser amado, ou até quem sabe, para se deixar amar.

Todavia, no meu questionamento consigo entender que tudo fica fácil e compreensível quando deixamos Deus assumir o controle de nossa vida; quando O amamos de toda intensidade, de toda nossa vontade, de todo nosso coração, somente possível quando percebemos que criados fomos por Ele e para Ele.

Porém, também sei que não é possível amar a quem desconhecemos, momento em que Ele nos dá sinais para que o busquemos de todo o nosso coração, em assim fazendo, nós o encontraremos, ao mesmo tempo em que encontro nas entrelinhas do texto sagrado Sua Palavra a nos dizer que sofremos porque nos falta entendimento.

E quando me vejo frente a frente com palavras de que Deus amou ao mundo de tal forma que entregou seu filho em amor de nós posso entender nossa dificuldade em amar, em nos entregar.

Aí, quedo-me em prantos e peço a Deus para que me ensine a amá-lo e logo um sopro suave vem me fazer companhia.


Releitura Livro de Êxodos 34:28 - por Inajá Martins de Almeida

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

LEITURA BÍBLICA EM PALAVRAS

Quem me dera fossem minhas palavras escritas.  

Que fossem gravadas num livro, 

com pena de ferro e com chumbo, 

para sempre fossem esculpidas na rocha!"

 (Jó 19:23/24 ) 

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Ao longo dos anos de estudos, leituras, participação em palestras e cultos, o conhecimento adquirido me trouxe desejo enorme em colocar minhas próprias palavras às mensagens recebidas, com o propósito apenas de ser mais uma forma de interpretação da Palavra. 

Os registros me foram favoráveis, pois que percebi neste agora, o quanto frutificou a semeadura.

Anos que se podem contar, a partir da primeira edição em 2007, até a presente data – 2023 – dezesseis anos de escrita, girando em torno de ...... textos, .... páginas, sem registro, ainda, das pregações que foram capturadas e revertidas em textos, as quais estão em alguns blogs, os quais serão resgatadas para este formato papel.

Assim, almejo que os anos vindouros me sejam muito profícuos, ao mesmo tempo em que sei que, em mim, a certeza de que Deus nos dá de acordo com nosso desejo e, também nada é possível sem que estejamos caminhando em Sua direção, uma vez que tomo posse de Sua Palavra ao nos orientar que:

- “Sem mim nada podereis fazer... porque, Eu sou a videira, vocês os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto” _ Jo 15:5

Também que a literatura nos abre enorme leque e a Palavra nos proporciona ser partícipes da obra, uma vez que há muitos pontos de vista, mas quando se percebe que a vista pode enxergar além do ponto, a produção literária flui. 

Acima de tudo, tenho de agradecer a Deus, que me dá em abundância todas as coisas.

Ademais, por um tempo me vi apartada deste espaço, o que, neste momento me faz retornar, agora que atribuições adversas não podem me abster de algo que sempre esteve latente em minha mente – refletir e escrever sobre a leitura da Palavra. 

Em breve trarei novas publicações, as quais, não tenho dúvida, Deus me concederá a devida inspiração.

Aliás, neste findar de ano, estou a organizar todo o arquivo em formato papel, para que possa estar sempre à mão, para eventuais consultas, tanto minhas, quanto de quem se interessar, pois que, além da internet, o papel nos dá a oportunidade de sentir, cheirar, quiçá acrescentar outras linhas.

Agradeço tanto material recolhido até o presente, ao mesmo tempo em que  agradeço o que o futuro poderá me proporcionar.

por Inajá Martins de Almeida   



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

VEJO HOMENS COMO ÁRVORES

por Inajá Martins de Almeida

O que nos diz uma palavra? A mim, ao ler uma passagem bíblica, percorro o trecho em seus meandros e, algumas vezes, procuro tirar momento para reflexão e, principalmente, escrita. Eis-me aqui...

Percorro o capítulo 8 do livro de Marcos e as palavras me vem ao encontro, quando “naqueles dias” Jesus novamente reúne “grande multidão”.

Estanco em novamente... Quantas vezes Jesus reunia a multidão? Quantas vezes Jesus passava e grande multidão o seguia? Seria diferente nos dias atuais? A Bíblia nos coloca naqueles dias, eu estou aqui, em dias atuais a pensar nos dias presente que é a expressão de nossa realidade.

Em dias presente, há muitos locais que reúnem grande multidão, com fome, com sede, sem nada para comer, mas será que pães e peixes são entregues para serem compartilhados e multiplicados?

Como naquele tempo também almejamos sinais como fariseus que interrogam... Queremos ver a manifestação dos milagres em nós, nas pessoas, na multidão... Queremos tudo ao nosso gosto e prazer. Cuidado!...

_ "Por que esta geração pede um sinal milagroso? Eu lhes afirmo que nenhum sinal lhe será dado".

Estanco em meditação por breves segundos e percebo que Jesus se afasta, em meio ao questionamento, a falta de visão, enfim, vira as costas, entra no barco e segue à outra margem...

Vira as costas a quem? A multidão e aos seus... Aqueles que o acompanhavam...

Ouço Jesus a suplicar ao Pai em seus momentos derradeiros – “Pai não afaste de mim a tua face...”. Aqui me permito silenciar...  

Sua sensibilidade o leva a encontros – o tempo lhe é curto; Jesus sabe buscar quem o busca; Jesus sabe encontrar quem o requer... Entretanto, também nos adverte ao estarmos atentos; naquele momento era aos discípulos que falava. Hoje a nós deixa escrito:

- "Estejam atentos e tenham cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes".

E os discípulos discutiam entre si sobre a falta do pão físico... Jesus se referia ao pão espiritual... Ainda não estavam preparados. Andavam com Jesus, ouviam de Jesus, presenciavam de Jesus, mas ainda não tinham olhos e ouvidos abertos aos sinais e prodígios de Jesus. Ainda mantinham “corações endurecidos”. Viviam um tempo em que fardos da religião e da nação lhes eram impostos pesadamente. Então... Mantinham o coração endurecido pela dureza da época, ainda que Jesus caminhasse lado a lado com eles...   

O que fazemos hoje? Continuamos a discutir por pedaços de pão e bocados de peixes? Continuamos com o coração “endurecido” e a “não entender”? Continuamos a viver sob jugos pesados?  

Eis que segue o texto e um cego adentra o cenário, trazido por algumas pessoas.

“E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa”.

Outra questão me cala profundamente, ao ponto de colocar alguns porquês:

1º) Por que aquele homem? Não havia muitos entre eles? Por que somente aquele? Por que a suplica dos que o traziam? Posso imaginar amigos, parentes próximos, quem sabe até curiosos apenas. Todavia, em meu coração bate forte a presença de pessoas em súplicas.

2º) Por que o tomar pelas mãos? Aqui pressuponho que a cegueira o limitava significativamente ou, quem sabe, algum transtorno o privava da razão, do poder caminhar sozinho com os próprios recursos físicos, bom esta é minha ótica para a questão, que se abre em outras tantas. Ao segurar-lhe pelas mãos demonstrou cuidado, zelo de mãe para com um filho. Cada qual terá sua prerrogativa.

3º) Por que o levar para fora da aldeia?
Mais uma questão imaginária em minha composição. Jesus precisava estar a sós com aquele homem. Não nos é dado conhecer o diálogo mais profundo, entretanto, apenas algumas perguntas básicas, como a que permanece – “O que vês...?

4º) Por que cuspir-lhe e buscar a lama para fazer um plasma para os olhos do cego?
Eis uma questão gritante: lama, cuspe. Aqui se me abre um leque imenso de pressuposições. Imagino que Jesus se utilizou de práticas bem conhecidas daquele homem cego. Ultrajado por cuspes dos que o rejeitavam, lançado a lama pelas quedas próprias e por quais nem almejamos pensar ou pressupor. A razão é que era a linguagem sensitiva que o cego bem conhecia.

5º) Por que impor-lhe as mãos?
Aos poucos Jesus faz o cego sentir o toque suave de mãos que há tempo se apartaram do seu viver. Ao segurar-lhe pelas mãos, ao tocar-lhe os olhos dá a perceber que um novo horizonte está trazendo possibilidades outras. Possibilidades essas de resgatar a dignidade perdida na cegueira.

6º) Por que enxergar homens como árvores?
A esta questão pude investir tempo significativo, ao ponto de estar neste momento transcrevendo o que me acalmou os ânimos. Vejo homens como árvores. O que me traz a lembrança da árvore? Sombra. Alimento. Paz. Segurança. Repouso. Fantasia...  Ao cego os homens lhe proporcionavam tudo isso... Eram aqueles homens, os quais, acostumado a conviver, vistos como árvores.  

7º) E agora? Por que enxergar nitidamente?
Novamente Jesus passa suas mãos nos olhos do cego, agora sem a lama e sem o cuspe. Mãos limpas, repletas de energia que dele emanava. Mãos daquele que nos veio indicar o caminho. Mãos daquele que nos ensinar ser ele o Caminho.

8º) Por que a orientação de mandar o que agora via para casa, sem passar pela aldeia?   
O retorno a casa de onde saíra como o filho pródigo, buscando na aldeia a sedução que o levara a cegueira. Orientação forte para alguém que estivera entre jugos pesados de lama e cuspe. Orientação forte para que a casa retornasse e que se desviasse da aldeia. Orientação que a nós permanece em aberto.

9º) Por que o olhar para cima?
Aqui adentro o ápice do texto quando o homem restaurado passa enxergar claramente a todos, a partir do seu olhar para cima. Jesus não solicitou que olhasse para ele, que o enxergasse, mas que olhasse para cima, para o alto de onde emanavam todas as coisas. Jesus era o veículo a levar o cego ao Pai.

E, neste momento em que um ponto me trouxera um raio de luz para meu entendimento, passo, cada vez mais, a querer enxergar homens não tanto como árvores, mas a todos como a expressão do Pai.

Marcos - capítulo 8



    

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

CASA VAZIA




"Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo, sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus... e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus". (Fl 4:6-7)
___________________

por Inajá Martins de Almeida 

A chuva forte da madrugada (15/01/2019), a goteira dos grossos pingos d'água a escorrer pela lâmpada e ganhar espaço livre pelo chão, despertaram-me em sobressalto. Logo, os preparativos inesperados, fizeram-se prementes, assim como o cafezinho diante do sono que se tornara fugidio em pouco tempo. 

Aconchegada à poltrona, observei a casa, a qual durante um período de nove anos fora palco de nossa representação, dentro do tema e itinerário que desenvolvemos em nossa jornada a dois. A partir de agora, teria de me acostumar ao só.

Confesso que, ainda na tarde anterior(14/01/2019), ao ver concretizada aquela que até então apresentava-se como perspectivas de mudança - o contrato, as assinaturas, as chaves em mãos - meu olhar  quedou-se entristecido e o coração palpitando em descompasso levou sinais à mente de que poderia haver um revertério na situação que se apresentava favorável desde o início até o presente momento; sentia em mim leve inclinação ao recuou, mas... como sempre há condições que nos movem, esta me  veio no acordar fora de hora, e no encontro que me trouxe alento em sonho, num profundo sono só possível quando buscamos a paz fora de nós, naquele, e só naquele que nos pode trazer a paz.

E contei o tempo - quatro meses - sem meu companheiro e, no mesmo instante em que minha mente percorria espaços vazios da casa, que em breve ocuparei, imaginava nossas conversas ao admirarmos o jardim tão cuidado pelos seus convivas - casal idoso que partira para a nova e definitiva morada - você me vem em sonho e posso reafirmar minhas últimas palavras a ti quando naquela imensa UTI, agora, contudo em nosso quarto, em nosso leito:

"- Eu te amo, verdadeiramente eu te amo e muito ..."

E desperto e percebo que meus pedidos, depositados diante de Deus, foram-me supridos e passo a me esvaziar de mim - mágoas, ressentimentos, tristezas, perdas, lágrimas e mais. O sonho não me fora mera representação do inconsciente, mas a expressão de que algo estava a se esvaziar em meu interior. Era necessário que esse algo acontecesse e aconteceu. 

E, ao meu esvaziar pude sentir, fortemente, o preencher de Deus a ocupar espaços e me acalmo e canto e vibro e de mim para mim posso falar e ouvir o som do eco a percorrer espaços vazios de mim:

- Inajá, Inajá não andeis ansiosa por coisa alguma...   

E saio de mim a desconstruir e a reconstruir espaços em mim, de mim e para mim.






terça-feira, 15 de janeiro de 2019

TRANSFORMAR SONHOS EM PROJETOS

Apontamentos de Inajá Martins de Almeida sobre Lc 15:17-20
a partir da pregação do padre Léo
https://www.youtube.com/watch?v=saQxE8hDO6k

Esses últimos meses me têm sido de muita reflexão, não que os demais não o foram, entretanto, acontecimentos adversos aos sonhos e projetos traçados, levaram-me a questionar de forma a mais inusitada possível. Fora dos meus planos traçados a morte me surpreendeu e a ela - ao sentido de morte - detive-me tempo demorado ao entendimento, através de leituras, de vídeos, de conversas entre amigos e mais.

Percebi que quando Deus nos dá a prova Ele nos manda entendimento.  

"E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não". Dt 8:2


E nessas pesquisas, eis que deparo-me com o filho pródigo, quando à vista da pregação passo a olhar e apontar pontos vários aquém da palavra do pregador. Era padre Léo que dissecava o filho a solicitar a herança, enquanto atento para a indelicadeza do filho a:  

1. ansiar a saída da casa paterna

2. almejar, requerer e lhe ser dada toda a herança paterna

Ao requerer a herança dou a conotação de que o pai fora colocado numa berlinda e percebo quantos a dizerem não pedir o próprio nascimento, ofensa essa não somente ao pai físico mas ao eterno que nos criou a sua imagem e semelhança, para que povoássemos a terra.

Ao requerer a herança, passo a imaginar nossa época presente; o filho a intimidar o pai a lhe dar conforto - casa, comida, roupa lavada e passada, escolas das melhores, carros de luxo... muito mais...

Ao requerer a herança em bens materiais, o filho  se coloca na posição de merecedor daquele patrimônio que, quiça, jamais participou em sua composição.

Ao requerer a herança, sob minha ótica, o filho esboça o sentimento de querer ganhar o mundo, sair da casa paterna, caminhar com as próprias pernas, escolher por si o caminho a trilhar, não que isso não lhe seja bom, que não lhe seja permissível, desde que propósitos sejam agregados ao sentido de vida saudável e plena, nos parâmetros de Deus.

Poderia ser uma história como tantas outras em que vemos filhos partirem em busca de seus sonhos - faculdades, casamentos, empregos, cidades, países - porém, o que vemos quantas vezes, são caminhos equivocados, errados; sonhos despedaçados, projetos que não se cumprem. Filhos que, como o pródigo das Escrituras não multiplicam heranças, antes apenas fazem uso indevido das expensas recebidas do pai.

Será que podemos nos enxergar no filho pródigo? Sem dúvida todos o somos. Fruto da desobediência. Da mentira. Da omissão. Do pecado. Entretanto, alguns poucos a almejar a compaixão do Pai. 

Provavelmente cada um de nós tem dentro de si questionamentos os quais podem nos irmanar ao personagem que, em dias atuais, pode ser encontrado em todos os cantos do planeta.

Todavia, aquém dessas reflexões a parte, outras mais, e que me motivaram as linhas, baseiam-se em sonhos e projetos. 

Imagino que o sonho e o projeto do filho pródigo da história estava em desacordo com o pai, assim como tantos em dias atuais. Pais que buscam traçar linhas mais seguras a filhos que não se enquadram nesses planos.

Mas o que me fica ao final, fora que o filho, ao cair em si, a se olhar para dentro pensa no pai que distante ficara e busca a reconciliação.

Aqui me detenho tempo mais prolongado; salta-me então questões intrínsecas no texto, como:

- caindo em si
O filho pode olhar para dentro de si e perceber que sua consciência gritava pelo pai; ansiava pelo perdão do pai, assim não se refugiou em seu próprio calabouço, antes buscou desfazer o mau que causara no coração afetuoso do pai que pudera lhe entregar tudo que lhe fora devido como filho.

- levantar-me-ei
Essa atitude me soa significativa, pois quantas vezes nos encontramos prostrados em questionamentos vários e as forças nos distanciam do movimento, do passo derradeiro, mas pode o filho entender que chegado era o momento de se levantar, abdicar daquela situação de escravo a que sua própria atitude o levara. Nem o comer a lavagem dos porcos lhe era permitido. O fundo do poço chegara para aquele jovem... 
Será que não chega para tantos outros em nossa era?

- por-me-ei a caminho
Questão imperativa. O regresso. A jornada que não se fará tranquila; ao partir da casa paterna, traz consigo todos seus pertences - sua fortuna o acompanhava -  agora mãos vazias, apenas a esperança e a certeza de que na casa do pai, ainda que fosse tratado como empregado, teria uma vida mais digna e regalada do que a que o mundo lhe pode oferecer. 

- irei ter com meu pai
O questionamento lateja sua mente e o faz rever tópicos que permaneceram em aberto. Volta-se ao entendimento de revisitar esses espaços e solicitar perdão pelas faltas cometidas quando, então, resoluto opta por mais um passo, o derradeiro nessa jornada.

- levantando-se foi em sentido a casa paterna
Não se percebe o tempo, o cansaço, apenas a esperança que almeja o reencontro e um coração que pulsa arrependido a espera do perdão, quando a distancia se abrevia ao ver o pai que se mantivera no aguardo, movido de compaixão, pode abraçar o filho com a mesma paixão que o vira partir.

Não mais se ouviu as palavras do filho, mas a ordem do pai a seus empregados, para que a melhor veste e a melhor comida lhe fosse ofertada, uma vez que o filho que se perdera, que se distanciara da casa paterna, caiu em si e voltou. 

Com que paixão o Pai o aguardou, com que paixão o Pai nos aguarda. 

Eis a questão neste momento em que ao escrever me vi envolvida em muitas cenas qual o filho que se conta. 

Carregamos em nós esse personagem:  queremos nossa liberdade, queremos conquistar o mundo com nossa força física, queremos participar das ilusões que nos ofuscam mente e alma, enfim, almejamos participar das ciladas que caminhos torpes nos inspiram. Entretanto, a segurança que a servidão, a obediência, o aconchego de pai nos proporciona,  faz com que caiamos em nós, ávidos pelo perdão, pela compaixão do Pai misericordioso e fazemos o caminho inverso - retornamos a casa paterna.

Se nesta manhã fora padre Léo a me tocar com suas palavras de ordem a que sempre me refiro e de que tanto me valho para meu viver cotidiano, a transformação de sonhos em projetos, pude nestas linhas encontrar a meada do entendimento de que o distanciamento da casa paterna não pode acalentar nossos sonhos, tampouco transformá-los em projetos, porque "sem Deus nada podemos fazer". (Jo 15:5) 

E, se envolta ao retorno a casa paterna, pude em sonho contemplar aquele que me antecedera ao Pai, nesses quatro meses de ausência, bem o sei que com a mesma paixão braços abertos me aguardam num dia qualquer de um ano que não podemos prever.

Amanheci entre sonhos: um com meu companheiro de jornada nesses últimos 12 anos - Élvio - outro o encontro da mensagem que me detivera tempo prolongado a compor essas linhas.


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O padre Léo em suas palavras acrescentou algo interessante com  relação a sonhos e projetos:


1º) Meta 

O que eu quero


2º) Objetivo 

Por que – motivação

- Para que eu quero - alvo


3º) Propósito

- Como e o que fazer para chegar lá



Sonho – vislumbrar, imaginar


Projeto – concreto – projetar (pro jetar – lançar no papel) 

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Manhã de 15/01/2019 - Quatro meses me distanciam de ti Élvio, mas tua presença tão singular em sonho neste dia, onde mais uma vez pude reiterar meu amor por ti, deixou meu coração leve e meu dia repleto de sonhos para sonhar e projetos para projetar. Ao dizer eu te amo, verdadeiramente te amo, pude perceber a força do amor latente a me libertar. Logo mais a mudança física de espaço irá requerer de mim planejamento, sem sua presença. Agora aquele jardim que tanto nos inspirava, fará parte dos meus dias futuros.  


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

LEVANTA-TE E ANDA

por Inajá Martins de Almeida


Josué pranteava. Derramava-se em dor e lágrimas. Era Moisés que partira. Até aquele momento, figura impoluta, servira-lhe de exemplo – a que servia e seguia. Escudo forte, presença real e constante. Mão amiga, agora deixava o cenário e quedava-se por terra a prantear, quando o soar de um trovão o faz despertar.
Josué estava enlutado. Era a morte de seu líder a ceifar-lhe o ânimo.

Passamos por momento similar? Podemos decliná-lo? Sem dúvida: doença, morte, separações bruscas, perda financeira, demissão daquele emprego que tanto almejamos e sonhamos. 

O tempo, cada qual o tem a seu modo. Alguns quiçá se levantam. 

- Josué! Josué! Moisés, meu filho é morto, portanto, levanta-te e anda.

Eis que mais um ano nos premia o cenário da existência. Segundo dia de 2019. Tópicos prenunciam os dias que se encontram em aberto no ensejo de mudanças, renovos, transformações, informações. 

Eis que planos nos apontam o levantar e o caminhar.

Há meses, aquele que me fora tão constante nos passeios, mãos dadas, nas leituras em questionamentos constantes, no partilhar trabalho, deixa-me prostrada, enlutada. 

Mas, conhecedora de tantas mensagens, de tantas palavras de ânimo, fé e coragem, aquilo que poderia levar-me à prostração, deu-me impulso a sair do meu luto e buscar conforto entre amigos, entre palavras nos encontros, nas palestras disseminadas na rede mundial. 

Eis que me vejo ante Josué que adentrara a terra prometida e aquele paralítico em que os amigos o levaram de maca à presença de Jesus e fora curado. 

Se um observara que naquela terra manava leite e mel, os amigos bem o sabiam que naquela casa, não importava em quais circunstâncias chegariam, a levar aquela maca em que o amigo se mantinha prostrado por tempo incalculável, a cura viria daquele que caminhava e realizava maravilhas por onde passava. 

Em aberto o caminho que, embora estreito e rodeado por gigantes, pode ser transposto se mãos amigas puderem segurar, encorajar e encaminhar àquele que pode perdoar pecados, e ainda dizer que os pecados são perdoados; que também não impede, tampouco ordena ou solicita que a maca seja abandonada, antes orienta que ao levantar, tome a  "sua maca e ande".

Posso vislumbrar que não devemos nos esquecer do que fizemos e fomos, entretanto que, se curados da nossa enfermidade física e moral, a maca não seja o empecilho para a caminhada. Que, embora a carreguemos conosco, ela já não tem o mesmo peso e significado.

Levanta-te e anda. Teus pecados te são perdoados.

Levanta-te e anda Josué. Moisés é morto.

A palavra é viva. Serviu para aquele tempo. Para aqueles personagens. Serve para nós no presente.




quarta-feira, 21 de novembro de 2018

AS PERDAS ME LEVAM A ENCONTROS

por Inajá Martins de Almeida

Dias frios e chuvosos me levam às reflexões, muito mais do que dias claros e ensolarados. Esses dias, nesses derradeiros do ano, são mais freqüentes, razão pela qual procuro entendimento maior sobre mim. Agradeço, assim, o tempo calmo, chuvoso que me torna possível  encontros vários. Primeiro comigo, com meu interior, aquele que me torna  mais plena, mais cônscia de mim...

Percebo-me como aquela mulher a buscar pela moeda perdida, que não pode descansar até encontrá-la. E saio à procura de mim...

O que teria roubado minha paz? O que teria trazido a mim esse desejo premente de procura? A resposta, então, a mente me vem latente:

- Perdas! Perdas? ... 

Sim, são elas que vêm roubar espaços de mim. São elas que vêm também, organizar espaços em mim. São elas que ao invés de diminuir, acrescentam espaços em mim e logo recorro às linhas, aos vídeos que me elucidam, aos amigos que abrem seus ouvidos para me escutarem e trocarem, comigo, impressões.

Não me sinto só. Não posso me sentir só, com tantas descobertas, com tantos encontros. 

As perdas podem, assim, somar, porque busco acrescer meus espaços que, se vazios, necessitam serem preenchidos. 

E saio a procurar minha dracma. E, como aquela mulher chorosa, preocupada, triste, assoberbada pela ausência, pela perda, agora ao encontrá-la se lança em festa, convida amigos a partilhar dessa alegria eu, em meu espaço, aparentemente vazio, rejubilo, canto e torno pública minhas palavras.

Pude perceber, revendo meus espaços, que as perdas puderam me levar a outros tantos encontros e a outros tantos espaços.

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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

EXPERIÊNCIAS COM DEUS

Dentre tantas palavras que tenho oportunidade de ouvir – e também me dou a oportunidade de ouvir, assimilar e digerir – encontro no Livro de Atos algumas que tem me tocado profundamente nos últimos tempos.

Herodes é aclamado pelos religiosos da época, os quais também se alegram com o fato da perseguição acirrada imputada a igreja de Cristo logo após a crucificação de Jesus.

Os judeus não reconheciam “O Caminho”, denominando-o “seita” (“Aquela a que chamais seita...”) tampouco a Jesus, como por Ele mesmo dito “Eu vim para os meus, mas os meus não me reconheceram”, além do mais apoiavam um rei cruel e sanguinário que, após matar à espada Tiago, irmão de João, manda prender a Pedro, ao término da Páscoa. Entretanto, mantido sob quatro escoltas com quatro soldados cada, fortemente acorrentado a duas correntes, Pedro “dormia”, enquanto a igreja mantinha incessante oração a Deus a favor dele.

Aqui eu percebo a experiência maravilhosa que Pedro tinha com Jesus e com Deus, pois calmamente se mantinha em meio a adversidades e, mesmo acorrentado entre dois soldados, dormia.

A palavra “dormia” me chamou especial atenção, quando me percebo tempo demorado a vislumbrar um fato real em minha própria vida. Quando minha mãe, após um período de trinta e quatro dias em estado de coma num leito de hospital, vem a falecer (24.10.2004), naquela noite, após os preparativos funerários, volto para casa, abro a Bíblia e peço uma Palavra ao Senhor e esta vem através do Salmo 145, juntamente com um sono e uma paz perene, explicável apenas para aqueles que buscam uma experiência com Deus em sua vida.

“O Senhor sustém a todos os que estão a cair,
e levanta a todos os que estão caídos” (Sl 145:14)
“O Senhor está perto de todos aqueles que o chamam,
de todos os que o invocam em verdade”. (Sl 145:18)

Parei tempo demorado nessa passagem, imediatamente a próprio punho escrevi no rodapé da Bíblia:

_ “o Senhor me mandou o consolo neste dia em que minha mãe faleceu (24/10/04); o Senhor levanta os abatidos”

A seguir, inexplicavelmente caí num profundo sono, vindo a acordar ao amanhecer, quando os preparativos para a cerimônia do traslado se faziam necessários. Seu sepultamento aconteceu na cidade de Araras no dia 25/10/04 as 16 horas, após o que voltamos, Alexandre, Elisabete, David, meu pai e eu, para Ribeirão Preto, todos silentes, sem palavra alguma pronunciar durante o percurso aproximado de 150 quilômetros. Ivani, Juliana e Wagner dirigiram-se para Campinas, os demais parentes e amigos, em Araras permaneceram, cada qual a seguir o cotidiano de suas vidas.

“Em paz eu pude deitar e dormir, porque só tu,
Senhor, me fazes habitar em segurança”. (Sl 4:8)

Pedro havia conhecido a Jesus, andado com Ele, presenciado Seus milagres, negado-o também por três vezes, mas esse fato não apagou a força do Deus vivo dentro de si. Estava não só envolvido, mas comprometido com a Palavra. Sabia que ainda que morresse a vida eterna lhe fora prometida, por Aquele que viera para dar vida e vida em abundância, que no mundo passaria por muitas aflições, mas, que, as enfrentassem com bom ânimo, posto que o mundo por Ele fora vencido.

E a Palavra exorta que, enquanto Pedro dormia, Deus enviava um anjo o qual, tocando-o, o faz despertar dizendo: 

_ “levanta-te depressa”.

Outra experiência vivida no mesmo período de hospitalização, junto ao leito de minha mãe. Os longos trinta e quatro dias foram cruciais para enfrentá-los. Ali era o deserto que, dia após dia, eu tinha de atravessar. Assim tentava dividir-me entre as visitas diárias, (duas vezes ao dia), o trabalho profissional, os afazeres no lar (pai e filho), a igreja e as orações.

Num desses dias, preocupada com o destino de minha mãe – a mansão eterna a chamava e eu a segurava (a separação me era dolorosa) – eis que a seu lado, fitando seu semblante inerte e sereno, uma voz penetra fundo meu âmago fazendo meu interior calar: 

“Você está preocupada por que? Saiba que antes dela ser sua mãe, ela é minha filha!”.

Imediatamente me tranqüilizei e, aquele semblante caído que me acompanhava todos os dias, passa a espargir um brilho somente possível para aqueles que descansam no Senhor e, naquele momento eu pude perceber que realmente eu descansava à sombra do Onipotente.

Percebi claramente que Deus falava comigo e “depressa” me coloquei de pé.

No apartamento, o teclado silente a um canto da sala, pedia para que a vontade de minha mãe fosse feita. Ele, que durante muito tempo pode ser expectador da alegria e prazer que minha mãe sentia ao me ouvir tocar e, vez ou outra solicitar alguma peça em especial, agora me pede que sua vontade seja feita.

Quantas vezes ela me dizia, ainda que em tom de brincadeira, para que eu executasse suas canções prediletas, quando a mansão eterna a viesse chamar e assim foi feito.

Inexplicavelmente “depressa me levantei” e pude deixar soar as melodias que, aos poucos, foram quebrando o silêncio do ambiente, enquanto os dedos autômatos percorriam as teclas brancas e negras daquele que por um longo período se mantivera calado.

“Romance de Amor”, “Ave Maria”, “Rosa”, “Barcarole” desfilavam uma após a outra, numa paz perene, possível apenas aqueles que tem os olhos fitos para o Alto.

Claro que depois da sua partida, passei por diversas situações, muitas quedas, muitas lágrimas, muitas discussões, muitas separações, muita solidão, muito deserto, não diferente de Pedro que mal pudera supor ser real o que julgara sonho – a presença do anjo, o acordar do sono, o romper das correntes, os portões de ferro se abrir por si mesmo – mas a luz do entendimento foi pedindo passagem, foi apagando feridas, limpando profundas marcas deixadas por um passado de ignorância de distanciamento de Deus, ao ponto de me agraciar com um presente vibrante, repleto de expectativa no futuro.

No ano seguinte, data do meu aniversário – 27 de março de 2005 – Deus me presenteia com minha sobrinha neta (Ana Clara) filha do meu sobrinho Alexandre. No mesmo ano conheço aquela que se tornaria minha nora; Patrícia viria trazer novo brilho ao nosso viver (ao meu, do meu filho David e ao meu pai), em abril de 2006 encontro-me com aquele que faria toda diferença ao curso da minha vida – Elvio meu fiel companheiro, meu presente real. Agora eu podia cantar: “De coração, pra coração, porque o Senhor mudou a minha vida... Estou feliz só porque Te encontrei”.

Pude perceber que meu coração não era mais somente para “decoração“; agora era de coração, para coração. E enquanto eu buscava preencher, com a presença de Deus, o vazio das perdas, Ele ia completando, o que eu, com olhos humanos não podia enxergar. Assim, pude materializar para minha vida a Sua promessa de que “não é bom que o homem viva só”.

Assim, também “depressa me levantei”, permitindo-me um recomeço. Era Deus que me tirava do sono e me pedia para caminhar.

Em junho de 2007 David, meu filho casa-se com Patrícia, unindo seus corações. No mesmo ano, outubro, Elvio deixa de ser virtual, passando ao real, quando então damos início a um relacionamento sólido. Em maio de 2008 a chegada da minha neta Rafaela cumpre a promessa de que a herança dos avós são seus netos.

Pedro caiu em si e percebeu que Deus o livrou de Herodes. Eu estou a seguir seus passos, livrando-me também dos Herodes, das sentinelas, dos portões de ferro que dão para a cidade, para as oportunidades que se abrem a minha frente, agora não mais só, mas em companhia daquele que está dando um novo colorido as minhas palavras. Com certeza, as suas palavras também estão sendo coloridas dia após dia.

Entretanto, decorridos esses quatorze anos do afastamento de minha mãe, mal supor pudera também enfrentar a segunda experiência quase que similar - 34 dias de tratamento intensivo, entre hospitalização, retorno a casa e finalmente uma UTI de quatro dias - agora com aquele que me fizera companhia por um período de doze anos. Mais uma vez tenho de entregar ao pó um ente que me foi tão grato...

Entretanto, mesmo em meio a dor imensa que sinto neste momento, posso ainda dizer e permitir que quebrada por Ti, Senhor, posso ter a certeza de que a glória da segunda casa será muito maior do que a da primeira, porque o teu cajado e o teu bordão me sustentam.

E se me for permitido solicitar a Ti um pedido, que seja este:

Que o Teu cajado e o Teu bordão me sustentem todos os dias finais de minha existência - amém
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