quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

ALIENAÇÃO - Carrol Thompson

impressões de Inajá Martins de Almeida (*1)

Se por um lado não há limite para se escrever livros, replica o autor, o acúmulo de informação gera cansaço e enfado (Ec 12:12). 

Como então administrar esse contrassenso, quando a produção editorial avança a passos galopantes em todo planeta?

“Era da Informação”. Momento contextualizado. Estresse. Angústia. Impotência ante a avalanche informacional angustia. O que fazer?

Bem! Cada qual poderá extrair de si pontos de vista.

Se todo ponto de vista é à vista de um ponto, consequentemente, este o levará a outros tantos pontos. Águias e galinhas expressam diferentes pontos ante um ponto. (*2)

Por conseguinte a leitura terá assim significados vários, sob a ótica do leitor e seus objetivos. 

Dentro de cada leitura, o leitor instigado à coautoria de uma obra, passa de passivo a ativo. Reconta. Reinventa. Questiona sua própria identidade. Explora o vasto universo da leitura. Percebe que os livros têm seu próprio destino. Que este está ligado ao destino do leitor. Que através do seu olhar é possível haver várias leituras. Várias interpretações. Cada qual terá sua realidade de acordo com sua visão de espaço, de universo, de mundo.

É assim que a visão encontra livros. É assim que livros vão ao encontro da visão. Para o acostumado aos tais, uma palavra representa um universo a ser explorado. Quando... Ei-la...

“Alienação”. Lidar com o problema básico do homem se torna crucial numa sociedade em que os valores estão a se tornar invertidos. 

Pensa-se no mal, como se bem fora. Carnal que é. Levado a práticas incompreensíveis, quantas vezes. Almeja-se a prática do bem, mas não se faz. 

“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico”. Alude o apóstolo. (Rm7:19)

Uma sociedade com problemas. Almas isoladas. Drogas. Exploração sexual. Suicídio. Famílias em decadência. Laços rompidos. 

Igreja – sustentáculo de fé e esperança – “tem sido, em parte uma organização que vive só para si... Ministros têm desapontado e explorado as pessoas, provocando seus desvios.(p.13)

"Até quando"? Ao clamor, busca-se por "abraços amorosos". (*3)

Culpa. Vergonha. Medo. A desobediência no Éden separa o homem de Deus. Rompe-se a aliança. O homem se vê nu. Torna-se hostil. Folhas de figueiras tentam encobrir a própria culpa. Mente. Mata. Andarilho errante isola-se .

“Porque será como o arbusto no deserto, e não sentirá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” (Je 17.6)

À ilustração da capa, Carroll Thompson abre a janela para a visão. 

O frio ambiente desértico. As rochas insólitas. Cenário vazio. Distante. Um arbusto seco que não consegue ao menos dimensionar o divisor entre o bem e o mal. Um profeta que registra. Um autor que analisa a dor de uma sociedade em isolamento. Uma leitora que alinhava retalhos através das linhas, entre dez capítulos. Um blog que compactua um ponto de vista. Leitores acrescentarão pontos de vista.

Leitura instigante. Fascinante. Ao menos o desenrolar das 144 páginas pudera perceber o tempo empreendido. Jornada prazerosa. Tema elucidativo.    

Enquanto, em pleno século XXI, pensar pudera que a ciência viesse solucionar questões milenárias, seres isolados podem ser vistos a gravitar ante a tecnologia que mais distancia o homem do próprio homem.  A comunicação em fios cibernéticos, capaz de aproximar povos e nações, numa fração de segundos, é incapaz de aproximar almas que gritam na proximidade de quatro paredes.

Alienados ante a dor do irmão próximo condoem-se ao sofrimento noticiado há quilômetros de distância. A procura pelo imediato prazer gera saídas desenfreadas ao próprio prazer.   “Ao buscar entretenimento para preencher o vazio, perde a realidade...” (p.15)

Culpa. Vergonha. Medo. Processo iniciado no Éden. A inocência que busca negar a própria realidade. A nudez que busca pela folha de figueira, como se esta pudesse encobrir-lhe o pecado original. (p.23)

A competição ferrenha logo alcança seu competidor, num embate eliminatório. No cenário levantam-se Caims em toda parte. O Paraíso torna-se pequeno demais para a ganância de um em desfavor do outro. A alienação da fraternidade separa o homem do homem. (p.32)

Gera-se uma anarquia. Busca-se por uma sociedade em que cada qual viva por si próprio. Mas... “quando a anarquia quebra a ordem de justiça dentro da cultura, os fundamentos da sociedade são destruídos”.  (p.78)

Ao se distanciar da face de Deus, perde o homem a perspectiva de quem ele é.

Em isolamento, “é fácil para o homem perder a si". Tornar-se hostil. 

- “Crucifica-O! Crucifica-O!”(p.117). Grito em uníssono. Compassado. Insólito.

Origem e identidade. Destino e propósito. Questões do deserto”. (p.113) 

É quando a paz enfrenta a hostilidade do homem e vence através do perdão. 

- Pai, perdoa-lhes! (p.118)

O sangue de Abel chama “Vingança”

O sangue de Jesus clama "Paz! Paz!”.

Traspassado por nossas transgressões. Esmagado por nossas iniquidades. Experimenta o Filho de Deus a alienação do homem. (p.118-119-121)

É o amor maior, capaz de entregar a vida para que nós a recebamos. Mais ainda, em abundância. 

Amor este que alcança esta que escreve. Aclara o tema questionador. Traz a tona pontos a serem repensados em meio a uma sociedade que a todo e qualquer custo quer alienar seus convivas.

O livro abre-me vasto leque de entendimento. Tece pontos. Chuleia novos  pontos. 

Almejo que este possa alcançar multidão de alienados em todo planeta.

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NOTAS COMPLEMENTARES:
  • (*1) Impressões sobre o texto do livro, capturas de tela e postagem de Inajá Martins de Almeida
  • (*2) Leonardo Boff - A águia e a galinha - resenha e comentários em: acompanhe em - alusões que não fazem parte ao contexto do livro.
  • (*3) Alusão ao Livro de Habacuque - não faz parte do contexto do livro
  • Carroll Thompson nasceu durante a Grande Depressão em 1934, em uma fazenda no oeste do Texas... acompanhe através de



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Thompson, Carroll  - Alienação: lidando com o problema básico do homem.  trad. Eliseu Pereira.   Rio de Janeiro: Graça Artes Gráficas e Editora Ltda., 1998.  144p

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