sábado, 30 de dezembro de 2017

COMO ESTÁ NOSSA ZICLAGUE?



por Inajá Martins de Almeida

Final de ano. Outro se aproxima - 2018.  Percebe-se no ar a grande batalha a se travar por todos os lados. Contendas inimagináveis. Seriam os tempos que se pronunciam? Tempos difíceis? 

Retomo a leitura inúmeras vezes. Livro em mãos - "O que fazer no pior dia de sua vida" - Brian Zahnd tem algo a nos dizer, especialmente a mim. 

É quando um jovem anônimo, a ocupar a platéia, desconhecido, solitário a pastorear ovelhas que, em pouco tempo, vê a perspectiva de se tornar visível ante muitos – ser o maior dentro de sua casa, onde sua pouca idade, seu porte franzino o tornava o menor dentre todos. É esse jovem que adentra o meu pensar. É esse jovem que me inspira as linhas e as busco.

Longe dos nossos dias, o tempo, que o pode predizer, nos dá a impressão de infinito. Horas contadas e multiplicadas aos nossos anseios de afazeres. Hoje as tais não nos bastam.

Então?

O que teria mudado enfim?

Bom agora o jovem se apresenta quando o profeta o busca.

- É você Davi, filho de Jessé, ademais, pastor de ovelhas?

- Sim! Sou eu. Eis-me aqui – elevo meu pensamento à apresentação.

Como nos apresentamos. Como somos vistos por Aquele, que almeja algo mais de nós, de nossas horas que se podem contar – nem sempre frutíferas.

Era  o menino - adolescente nos seus dezesseis anos - que aos poucos assumiria atitudes adulta, corajosa, às responsabilidades que lhe seriam imputadas – o comando ante a nação que logo adviria a sua vida pacata.

Era pois, o menino ungido rei que em breve travaria luta com o temível gigante  - que a muitos derrubara. 

Era o menino franzino, que logo estaria enredado com sentimentos torpes de ciúme, inveja, perseguição, fuga, a procurar refúgio em lugar seguro, junto a desconhecidos em semelhante situação. 

Era o menino a levantar fracos, párias anônimos e os tornar valentes dentre guerreiros  a constituir a nação que ultrapassava horizontes.

Era, pois o menino que aos poucos se transformava homem e encontrava sua Ziclague, pequena cidade perdida, desconhecida nalgum lugar do deserto que se constituía reduto de fortes e valentes.

Era o menino, transformado homem, que nos apresentaria Ziclague. 

Ziclague, em seu significado, pequena cidade, mas também local de reflexão, refúgio, silêncio, introspecção. 

Ziclague! Quando buscá-la? Em que momento vamos adentrar seu espaço e transformar nossos fantasmas, nossas experiências desagradáveis – mágoas, desgostos, palavras inoportunas – em gosto pela vida que se apresenta aberta aos nossos melhores anseios?

Ziclague que não nos priva o choro, a amargura do desamparo, da perseguição, do ultrajo no íntimo.

Ziclague que também dá forças e o entendimento de que o mesmo Deus que dá a prova, fornece condições para a sua resolução.

Ziclague que alarga o campo da visão, recupera a paixão se lança ao ataque para recuperar a paz, momentaneamente perdida.

Ziclague que celebra a restituição da perda temporária – da paz, dos afetos, dos bens físicos e materiais.

Ziclague que ao recuperar perdas passadas, leva à partilha futura.

Parei e pensei: - 

Como está minha Ziclague?

Como irei me comportar nestes 365 que se me apresentam 2018?

O menino que fora, homem se transformara. Rei exercera seu reinado de forma humana e humanitária. Agora, decorridos milênios, ainda é presente a nos presentear com a palavra de consolo ante, quem sabe - O PIOR DIA DE NOSSA VIDA!


                           Por que estás abatida, ó minha alma,
E por que te perturbas dentro de mim?
Espera em Deus, pois ainda O louvarei.
              Ele é a salvação da minha face e o meu Deus   


                         Salmo 42.11

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

NÃO SE COLOCA TECIDO NOVO EM ROUPA VELHA

por Inajá Martins de Almeida

É conveniente colocar tecido novo em roupa velha?

Tenho pensado muito nessa parábola de Jesus em minha própria vida.  
“   
            "Ninguém coloca remendo novo em roupa velha; porque o remendo força o tecido da          roupa e o rasgo aumenta”. (Mt 9:16)

Percebo o quanto é difícil consertar um trabalho executado com agulhas, com linhas  ou tecidos, cada qual a seu termo.

Gosto muito de trabalhos manuais, vez ou outra me coloco no exercício, principalmente o crochê; percebo assim, não ser possível tal prática – reformar um trabalho executado. Corta-se a linha, estraga-se a peça, por fim, trabalho perdido – tempo, material e a própria paciência, sem contar, claro, a decepção que advém do fato.   

Entretanto, passo a questionar outras situações – reformas, pequenas ou grandes: – pintar paredes da casa, móveis antigos, aproveitar algum objeto que nos fora de estima, dando-lhe coloração diferenciada.

Assim, idealizamos o que nos seja conveniente e partimos a campo: - aquisição de material, mão-de-obra (nós mesmos, quando possível), tempo, estresse, discussões. No percurso da empreitada, podemos nos satisfazer com algumas aquisições – afinal quanto de nossa vontade física e financeira dispôs nos preparativos para que tal intento pudesse ser concretizado; quem sabe, meses, anos até. 

O dia chega. Esquecemos que é remendo sobre casa velha – casa, paredes, teto, móveis. Sem pensar em nossa predisposição em perceber remendos necessários, até que, os buracos começam dar sinais do tempo – buracos que o presente abre em decorrência do passado  - brechas que não foram convenientemente fechadas, trabalhadas, quem sabe distante, ou aquém do nosso alcance físico, emocional.

Assim, alguns acabamentos são possíveis a resposta satisfatória, entretanto, a outros tantos se faz necessário o descarte – uma tinta não poderia cobrir os danos causados pela ferrugem, ainda que se colocasse produto adequado.   

Quantas vezes queremos adequar nosso caminhar ao nosso gosto e prazer, sabedores de que somos roupas velhas, pelo tempo que já vivemos – trinta, quarenta, cinqüenta, mais, quem sabe.

Percebemos, então, que a Palavra nos alerta que ao homem fora dado um tempo limitado – setenta anos. Porém, a ciência tem demonstrado que há possibilidade de avançarmos em dias, mas não nos alerta como fazer isso. Como não deixar que os remendos nos sobrevenham – cirurgias, doenças, administração de fármacos, consultas médicas periodicamente, sem falar do emocional, estresse, desavenças e mais.

E percebemos também que temos de conviver com distanciamentos, o tempo a nos privar de presenças desejáveis; o próprio trabalho que a nós advém – seria tão necessário assim?

Seriam os tais remendos novos que tentamos colocar em situações velhas e não sabemos chuleá-los, costurá-los e até arrematá-los?

Teríamos, pois que nascer de novo. 

Teríamos, pois de buscarmos viver em novidade de vida. 

Teríamos de buscar vestes novas e lançarmos em definitivo as vestes velhas. 

Sabedor de que somos caminhantes em nossa jornada, com nossas vestes rotas, nosso tempo passado, nossas vidas e experiências, Jesus nos vem provar que é possível mudar as vestes velhas e vestir uma veste nova, sem necessidade de remendos, desde que aberto o coração a velha criatura se abra para a nova.  

Bela reflexão sobre a Palavra. Jesus nossa roupa nova.

domingo, 2 de abril de 2017

PALAVRAS INOPORTUNAS

por Inajá Martins de Almeida



Sim... Quantas vezes palavras inoportunas, vindas em momento errado, sangram nosso coração vulnerável. Percebemos então que as pessoas não querem mais sentir o outro. Distanciam-se até dos que tão próximos lhe foram - mãe, pai, avós, tios, primos - e passamos a nos perguntar: - por quê?

E recorremos às passagens bíblicas e é ela nos diz que ao homem caberá deixar mãe e pai e unir-se a uma mulher e constituir família. 

Não é o que vemos. 

Sim... Filhos crescem e logo querem a independência física dos pais, mas um pesinho sempre permanece na casa paterna - a dependência financeira. 

Morar sozinhos, quantos almejam, quiça, terem um esposo, uma esposa, que lhes possam aliviar noites de solidão. Daí o que poderia ser encontro fortuito, torna-se desalento. 

Famílias desconstruídas, destruídas por todos os cantos anseiam pela construção de uma família, quantas vezes em vão.

O amor entre os homens a se esfriar, também escrito. O que mais conseguimos enxergar é a ciência a se multiplicar, mas o homem a sofrer, porque em meio a tanto conhecimento o tal lhe falta. E então?

Deus não muda. Suas mãos estendidas criaram todas as coisas. E quantos a se distanciar do criador em busca de ilusões. 

- Cuidado para que ninguém vos engane. Alerta!

Estamos cegos, de umas cegueira que não nos permite enxergar que estamos cegos...

Andamos ansiosos a correr de lá para cá numa época em que as facilidades são criadas para trazer facilidade. Mal temos tempo de olhar os lírios do campo, os pássaros que gorjeiam... Insensatos... Pobres miseráveis e nus que somos... 

Máquinas podem substituir trabalhos braçais. Computadores podem agilizar trabalho mental. Meios de locomoção podem nos trasladar rapidamente a lugares desejados e requeridos, contudo abreviamos o tempo ao correr para a morte em trágicos acidentes. Em contrapartida a ciência prolonga a vida para outros tantos.

- Marta... Marta... por que andais ansiosa? 

E contudo em meio a tanto questionar, podemos ir ao encontro daquele que nos segura pela mão, que nos exorta:

- Vinde a mim os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. 

Jesus. Nome que está acima de qualquer nome. Que nos mostra o Pai. 

Jesus. Que tira o morto de sua tumba, desata-lhe as amarras e o faz andar. Que dá vista ao cego. Resgata o cativo do cativeiro e o torna missionário dentro de sua própria casa. 

Jesus. Que ao paralítico lhe devolve o ânimo para sair de sua prostração, ainda que consigo leve a maca que lhe fizera deitar-se em um tanque de Betesda por longos e intermináveis anos, sem que mão alguma lhe fizera descer às águas do entendimento. 

Jesus. Que trabalha incansável independente de ser sábado e sagrado aos ditames de uma tábua que estava por ser quebrada. Um véu que estava por ser rasgado. Uma aliança trocada.

Jesus. Que multiplica vinho, pães e peixes. Resgata a dignidade das mulheres. Deixa-as espargir óleo a seus pés, escutarem suas palavras: 

Jesus que conclama às Marias ficarem com as melhores partes. 

Jesus. Que concede que migalhas de pão, caídas da mesa possam alimentar mulher faminta e os seus. 

Jesus. Que cura à distância, ao toque suave de sua voz:

- Vá. Tua filha está curada. 

Jesus. Que veio para os seus e estes não o puderam entender. 

Jesus. Tudo que tudo isso fez e muito mais faria, para ser levado à cruz, escarnecido e humilhado - rei dos judeus. 

Jesus. Ainda que cravejado de pregos e espinhos, sangue a derramar suplica pela misericórdia do Pai em sussurros abafados:

_  Pai! Perdoa-lhes. Não lhes impute mal algum, pois eles não sabem o que fazem. 

Sim! Realmente não sabemos o que estamos a fazer.

Creditamos uma imagem de barro, a qual podemos pintar da forma a mais esmerada e possível tal bonecos de madeira os quais podemos falar:

- Fala e anda... Mas que não andam, não falam, tampouco vertem lágrimas. 

O que pensar. A nós fora proibido erigir imagens, quanto mais nos prostrarmos ante as tais. O que fazemos então? Tal Adão e Eva que da árvore se apossaram, desobedecendo ordens, estamos nós a cometer o mesmo engano. Desobedecemos e ainda usamos de subterfúgios: - é apenas uma representação. 

Adentramos templos. Guardamos sábados, domingos, dias santificados. O tempo exíguo nos priva das visitas breves aos pais.

Transformamos Maria - mãe de Jesus - em nossa própria veneração e a seus pés, frios de mármore nos deixamos ficar por tempo infindo. Esquecemos que nossa mãe de carne e osso anseia uma ligação telefônica, ainda que fragmentada. Um enlaçar de corpos, um sorriso terno. 

Aquela mãe que deu seu corpo, embalou o filho, riu seus risos, chorou suas lágrimas, acompanhou seus passos ao entregar-lhe à esposa amada.

Maria. Todas somos Marias. Nas ruas, nos asilos, nos hospitais, sobre a lápide fria. Marias de carne, osso e sentimento, que desejam serem vistas, mas é a imagem virtual que se torna real. 

Maria que ao anjo não questionou - apenas obedeceu. 

Maria que no templo encontrou o filho adolescente a conversar com seus maiores: onde mais poderia encontrar aquele que estava a cuidar das coisas do Pai. 

Maria que também fora renegada pelo próprio filho ao não lhe abrir a porta quando reunido aos seus. 

Maria que de longe, agora, acompanha o calvário do filho. Aos pés da cruz se prostra. Na tumba o cobre com panos brancos e o unge com óleos e nardos. Tantas vezes o fizera no leito, corpo quentinho ao seu abraço terno, a embalar-lhe o sono.

Interrogação que ao tempo oportuno trará resposta. Agora somente palavras inoportunas conclamam estas linhas. 



        

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