É claro demais: não havendo ovelhas, não há necessidade alguma nem de igrejas nem de pastores.
Tão claro quanto: não havendo alunos, não há necessidade nem de
escolas, nem de professores; não havendo doentes, não há necessidade nem de
hospitais, nem de médicos. Isto quer dizer que, havendo ovelhas, há necessidade
de pastores.
Assim como há decepção mútua entre estudante e professor, há
também decepção mútua entre ovelha e pastor. Os dois tem de saber que a decepção
é de ambos os lados. Assim é mais fácil tratar do problema do relacionamento
entre um e outro. É como se fosse um desconforto conjugal, que exige humildade
e diálogo de ambos os cônjuges para recuperar a harmonia perdida.
O problema é antigo e preocupante. Há ovelhas que se queixam
amargamente de seus pastores e há pastores que se queixam amargamente de suas
ovelhas. Enquanto Deus se queixa de ambos ou, conforme o caso, só de um deles.
No livro do profeta Zacarias há uma palavra muito dura contra os pastores:
“Ai do pastor imprestável, que abandona o rebanho” (Zc. 11:17).
Em outras versões, o “pastor imprestável” tem sido pitorescamente
chamado de “pastor de nada”, “pastor de coisa nenhuma” e “pastor de fantasia”.
Esse pastor é aquele que não se preocupa com as ovelhas. Não procura a que está
desgarrada, nem cura as machucadas, nem alimenta as sadias, mas come a carne
das ovelhas mais gordas (Zc. 11:16).
O quadro é patético. Serve para contrastar com o comportamento do
Bom Pastor por excelência.
Se há “pastores de fantasia”, os tais pastores mercenários a quem
Jesus se refere (Jo.10:12), pastores sem alma, sem dedicação, sem testemunho,
sem autoridade, sem mensagem, há também ovelhas obstinadas, que tapam os
ouvidos para não ouvir, como o próprio Zacarias admite (Zc. 7:11).
Há muitos pastores não de fantasia que já não sabem o que fazer
por essas ovelhas imprestáveis, essas ovelhas de fantasia. Um deles, o profeta
Jeremias, queixou-se de que pregou em vão durante vinte e três anos, dia após
dia (Jer. 23:3).
Outro, o apóstolo Paulo, queixou-se de que suas ovelhas de
Corinto, nunca saíram da carnalidade para a espiritualidade, nem do leite para
o alimento sólido, nem dos “ensinos elementares” para as “coisas difíceis de
entender” (1 Cor. 3:1-3; Hb. 5:11-14).
Fonte: Revista Ultimato, dezembro, 2004 / < Ver outros Editoriais
https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/291/pastores-de-fantasia-e-ovelhas-de-fantasia
consulta em 02/03/2024
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