quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

CASA VAZIA




"Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo, sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus... e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus". (Fl 4:6-7)
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por Inajá Martins de Almeida 

A chuva forte da madrugada (15/01/2019), a goteira dos grossos pingos d'água a escorrer pela lâmpada e ganhar espaço livre pelo chão, despertaram-me em sobressalto. Logo, os preparativos inesperados, fizeram-se prementes, assim como o cafezinho diante do sono que se tornara fugidio em pouco tempo. 

Aconchegada à poltrona, observei a casa, a qual durante um período de nove anos fora palco de nossa representação, dentro do tema e itinerário que desenvolvemos em nossa jornada a dois. A partir de agora, teria de me acostumar ao só.

Confesso que, ainda na tarde anterior(14/01/2019), ao ver concretizada aquela que até então apresentava-se como perspectivas de mudança - o contrato, as assinaturas, as chaves em mãos - meu olhar  quedou-se entristecido e o coração palpitando em descompasso levou sinais à mente de que poderia haver um revertério na situação que se apresentava favorável desde o início até o presente momento; sentia em mim leve inclinação ao recuou, mas... como sempre há condições que nos movem, esta me  veio no acordar fora de hora, e no encontro que me trouxe alento em sonho, num profundo sono só possível quando buscamos a paz fora de nós, naquele, e só naquele que nos pode trazer a paz.

E contei o tempo - quatro meses - sem meu companheiro e, no mesmo instante em que minha mente percorria espaços vazios da casa, que em breve ocuparei, imaginava nossas conversas ao admirarmos o jardim tão cuidado pelos seus convivas - casal idoso que partira para a nova e definitiva morada - você me vem em sonho e posso reafirmar minhas últimas palavras a ti quando naquela imensa UTI, agora, contudo em nosso quarto, em nosso leito:

"- Eu te amo, verdadeiramente eu te amo e muito ..."

E desperto e percebo que meus pedidos, depositados diante de Deus, foram-me supridos e passo a me esvaziar de mim - mágoas, ressentimentos, tristezas, perdas, lágrimas e mais. O sonho não me fora mera representação do inconsciente, mas a expressão de que algo estava a se esvaziar em meu interior. Era necessário que esse algo acontecesse e aconteceu. 

E, ao meu esvaziar pude sentir, fortemente, o preencher de Deus a ocupar espaços e me acalmo e canto e vibro e de mim para mim posso falar e ouvir o som do eco a percorrer espaços vazios de mim:

- Inajá, Inajá não andeis ansiosa por coisa alguma...   

E saio de mim a desconstruir e a reconstruir espaços em mim, de mim e para mim.






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