quarta-feira, 28 de março de 2012

RECONTE-A : ESTA PODE SER NOSSA HISTÓRIA

Texto de Inajá Martins de Almeida sob o tema de João 5:1-18

Madrugada! Aqui estou. Como aquele paralítico – que João nos narra. Prostrada! ...  Prostrada às adversidades. Quantas a questionar. Quantas a clamar respostas. Silente, inerte, anestesiada, ante as águas que se revolvem em tremenda agitação. Apenas aguardo. Prostrada. Madrugada a dentro.

Por diversas vezes o assunto viera-me ao encontro. Desta vez, porém, algo me detém demoradamente. As palavras ressoam ao pronunciá-las em voz alta. Reconte-a! Um grito latente em meu interior. Mas, como eu poderia reconta-las a meu modo, segundo meu entendimento? O entendimento que me sobreviera quando desta releitura? Simplesmente reconte-a. E retomava meu sentido.

Rememorei então minhas observações – linhas alinhavadas de que uma leitura pode nos levar a outras tantas e nos fazer co-autores de uma frase, de um texto, de um livro. Que ao fecharmos um livro o mesmo acontece em nossa mente. Eram as linhas que saiam do universo do autor para ocupar o espaço aberto do leitor.

Ademais, uma história há que ser vista sob nosso ponto de vista, como nos diz Leonardo Boff. Poderíamos assim, reconta-la de formas várias, conforme nossa visão. Era o autor compactuando e interagindo com o leitor. Agora autor. 

Sim. Tinha pleno conhecimento de que leitura tem essa magia de nos transportar a cenários vários. Tecer nossas linhas através de buquês de letras. Abrir janelas a horizontes infindáveis. Tirar-nos do simples quadrado. Tornar-nos partícipes da obra. Entretecia ali uma linha que me levava além das linhas. Mas... Recontá-las?

O texto que detinha nas mãos, alertava que aquela poderia ser a nossa história. Aí sim! O que parecia ser uma noite como outras tantas, transforma-se numa verdadeira batalha. O sono foge-me madrugada adentro cedendo lugar às minhas conjeturas. Estava eu, tal qual o paralítico, a mirar as águas. Prostrada.

Acostumara-me às situações adversas. Aguardando pelo momento certo, os anos passaram. E continuariam a passar não fora aquela voz que agitava minha água interior. Reconte-a! Transforme a tua história.

Prostrado em sua maca, paralítico, quem sabe do físico ou da alma, ou até mesmo ambos, aguardava uma mão amiga que lhe proporcionasse sustentação. Uma forte mão que o encorajasse a descer às águas do entendimento e se libertar das amarras da paralisia. 


Não se conhece sua oração. Suas horas de jejum não são computadas ao menos informadas. Entrega de sacrifícios em holocausto ao menos é citado. Envelopes não lhe são entregues. Não se conta sobre seu clamor. Apenas que prostrado, aguardava.

Eis que sábado, próximo aquele vale de sofrimento uma festa. Grande multidão para lá se dirigia. Mal se dava conta daquele cenário horripilante, tenebroso, de lágrimas e sofrimento. A festa cegara aquela multidão ao entendimento. Alguma semelhança aos dias atuais?

Porém, um caminhante. Não um simples caminhante. Mas um homem. O filho do homem. Senhor até do sábado. Um homem que escandalizava religiosos ao quebrar costumes. Ao conclamar que o Pai trabalhava todos os dias e a ele lhe fora dada incumbência tal. 


Um homem que caminhava. Que maravilhava. Que amava. Que ensinava. Que curava. Que chorava. Que se entregava às últimas consequências para que tivéssemos vida em abundância. Que nos legava o fazer coisas melhores do que as que fazia. Um homem que se importava com uma ovelha perdida. Um homem que caminhava. Um homem que nos mostrava o caminho a caminhar. Um homem presente no presente – Eu Sou o Caminho. E ponto final.

– Queres ficar são? Brada ao paralítico em Betesda.

Perplexo ante o suave daquela voz a sua frente, sente o homem prostrado em seu leito de dor o tempo transcorrido, contados em trinta e oito anos, com a perspectiva de se alongarem mais, pois mão alguma ali, o auxiliava, não fora aquela vinda ao seu socorro silencioso. Caminhante conhecia o íntimo do seu interior. Seu coração estava exposto em sua dor contínua.

Mas! Os obstáculos se agigantam ante um enunciado – queres ficar são? Recursos, tantos, empenhados em vão. Os amigos próximos já nem mais se preocupavam com aquela longa e penosa situação. A pouca fé estava por esmorecer-lhe os ânimos. Como aquele estranho poderia resolver em poucos segundos o que uma vida não o conseguira? Possível? Não aos olhos humanos. Para aquele homem incomum - possível sim.

Afinal, quem era aquele que lhe pedia para que se levantasse, tomasse sua cama e andasse?

Não poderia almejar paralítico, que a sua frente estivesse aquele que detinha o poder de andar sobre as águas. Aquele que pedia ao morto que saísse de sua catacumba e caminhasse para fora. Aquele que curava coxo. Dava visão ao cego. Envergonhava apedrejadores. Abria-lhes o entendimento para deixar expostas suas vergonhas maiores, ante a adúltera lançada às pedras vorazes. Acalmava o mar revolto. Multiplicava pães e peixes. Transformava água em vinho.

Paralítico não detinha tais informações. Mas, quem sabe movido por força interior, pelo entendimento que lhe é dado, miraculosamente, levanta-se, toma seu leito e ao templo se dirige, agora caminhando.

Ele poderia, como os passantes, dirigir-se a festa em Jerusalém, mas optou pelo templo. E é lá que o caminhante o encontra.

A cura física lhe fora permitida. Faltava-lhe, contudo, a cura da alma. Um perdão não liberado. Uma mágoa encravada no âmago. Um pecado inconfesso. Quem sabe?

Estava são. Faltava-lhe a não incidência do pecado – vai e não peques mais. Coisas piores poderiam advir de atos impensados era a recomendação.

Agora ele sabia quem lhe falara. E se maravilhava. E se alegrava. E a todos O anunciava. Era Jesus que o curara. Saíra do seu leito de dor para propagar sua cura e ser partícipe na cura de outros tantos – era o que se esperava. Era o que lhe fora proposto. Ali não percebemos um ponto final, mas a reticências, quando sua atitude o leva ao templo e passa a conclamar Jesus. Sem lastros. Sem reservas.

Alma lavada. Não mais perplexa. Não mais prostrada. Sabia que Jesus não enganara a ninguém. Antes, alertara de que no mundo teríamos aflições, mas levava-nos ao exercício do ânimo, posto que vencera a estas. Nós também venceríamos.

Longa madrugada. Estende-se pela radiosa manhã ensolarada - lá fora e cá dentro. Dia especial. Presente de aniversário - 27 de março de 2012. Fora-me permitido sair de Betesda ao encontro com Jesus, no Templo.

Reconte-a. É possível. Esta pode ser a sua história também.
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Eu te agradeço Deus por ter mudado minha história!

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