A inspiração nos vem quando menos percebemos. Uma palavra. Um livro. Uma leitura. Uma música. Um encontro inesperado. Foi o que aconteceu nesta tarde fria e chuvosa. Um encontro. Um pregador. Uma mensagem. Uma reflexão. Um texto.
Amigos que compartilham mensagens. Que sabem transportar pedras. Que sabem compactuar o árduo trabalho de quebrar pedras.
Embora muitos foram avisados do sacrifício, da morte inevitável, na ressurreição, no ar pairava um quê distante . Aquele homem afável, impoluto, sábio, amigo, imune estava aos horrores dos acontecimentos vindouros - imaginavam aqueles.
Agora, mulheres ali estavam. A pedra removida. Pessoas estranhas. Diálogo desconexo. Roupas brancas visíveis dobradas. Um corpo ausente. Uma voz que quebra o silêncio: - "A quem procuram?"
As palavras do pregador tocam fundo o coração desta. Elvio assiste silente. Vez ou outra um rabisco. São as palavras que encontram eco. Eis que...
Mulheres buscavam um corpo. A pedra removida. Esforço algum fora empreendido. Mas! Como estava a pedra da incredulidade? Afinal!
Lázaro havia ressuscitado após quatro dias morto. Impossível. Cheirava mal, dizia uma mulher. A pedra era pesada demais para ser removida. A dor da perda. Mulheres que se privavam da companhia do irmão amado. Que não podiam olhar e enxergar a pedra removida. Mas um som clamava para que ele saísse. Viesse para fora. E veio. Logo após, em casa, com as irmãs Marta e Maria Lázaro ouvia atento o Mestre.
Era o preâmbulo - posso imaginar, tecer e registrar meu ponto de vista - do que aconteceria àquele que ensinava. Que curava. Que amava. Que dava visão aos cegos de nascença. Ali outra cegueira: a descrença; a incredulidade.
Aquelas mulheres conseguiam ver a pedra do sepulcro - removida - mas eram incapazes de remover as próprias pedras encravadas em seus corações. A tristeza. A ausência. O horror dos momentos que antecederam. Tantos fantasmas. Tantas pedras trancavam as portas dos seus corações doídos.
Sabedoras da ressurreição de Lázaro, não conseguiam entender que o Mestre a Si mesmo ressuscitara. Vivia aquele que na cruz morrera. Era o terceiro dia, como avisara.
Julgo hoje, a muitos, ser fácil o entendimento. Mas o seria naquele tempo?
E é o mensageiro, na tela do computador, através da tecnologia dos tempos modernos, que parafraseia o grande jurista Rui Barbosa, ao pensar que "infeliz é o povo cuja esperança se perdeu e a fé se petrificou."
O foco daquelas mulheres permanecia na pedra do sepulcro e não na pedra do coração incrédulo.
Alerta para todos nós. Estaríamos imunes a perda da esperança? E a fé? Pode ela petrificar nosso coração?
Reflitamos afinal: - a fé é testada no deserto. Ante os Golias. Ante os leões.
Afora esta - a incredulidade - o medo provoca pavor. Pânico.
A forte luz vinda do sepulcro escuro. Figuras reluzentes que emanavam sons. O corpo que não se encontrava aonde fora colocado. Há razões outras para que o medo não se agigantasse?
Os horrores foram visíveis. Pairava no ar o medo maior. A perseguição. Ali estavam as mulheres para ungirem com bálsamo, embalarem com panos limpos e brancos aquele a quem a dignidade delas fora aflorada.
Estaríamos nós preparados para esta cena?
Talvez hoje possamos pensar trivial. Corriqueiro. Conhecemos as escrituras. Filmes exploram a cena sob ângulos diversos. Mas naquele tempo a lembrança era apenas de Lázaro a sair por trás da pedra removida e a caminhar soltando as faixas que o envolviam. Penso eu ser uma cena estranha. Não é tão simples assim como hoje podemos imaginar!
Mas, ao impacto da incredulidade e do medo, seguir-se-ia a percepção da imagem distorcida. A dor cegara o entendimento. A mulher chorava a maldade humana de haver matado seu mestre e a visão dos fatos distorcia o entendimento maior. - "Maria. Maria. Mariazinha"
É o próprio Jesus que lhe fala. É o próprio Mestre que se apresenta resplandecente, mas confundido é com o jardineiro.
Fico a imaginar o quanto nossa percepção é distorcida. Ante a leitura da Palavra. Ante o culto em que ao convidado o último acento lhe é reservado. Recados inúmeros. Cânticos. Louvores. Corais. Danças. Apresentação infantil. O tempo faz conta. E conta. Eis que, a Palavra tímida se apresenta. Os minutos são contados. Observados. Vigiados. Enfim. Ele deveria ser a tônica maior. A primícia. Entretanto, o que antevemos - quando isso acontece - é o cordeiro com mancha. Muitos sequer se preparam para o encontro. Muitos não vislumbram a Palavra. Mal preparam, ou não o texto a compactuar. Muitos sequer reparam no texto. Que pena!
Interessante, portanto, acompanhar a mensagem. assista agora
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texto de Inajá Martins de Almeida